Luto na pandemia

Quando o país ultrapassa a triste marca de 450.000 vidas perdidas em decorrência da Covid-19, torna-se cada vez mais necessário  conversarmos sobre o luto.

O que é luto?

O luto é um processo que faz parte da vida de todos nós. Ao longo de nosso desenvolvimento, nos deparamos com perdas significativas. Desde pequenina, a criança passa por processos de perda e reorganização. Se pensarmos no desmame, por exemplo, observamos a perda, tanto para a mãe quanto para o bebê de uma posição estabelecida. A saída do desmame exigirá um trabalho de reorganização de ambas as partes para que a adaptação a uma nova etapa da vida da criança se estabeleça. Assim, todos nós passamos por crises (adolescência, menopausa, mudanças de emprego dentre outras) que envolvem perdas e reorganizações. Nesse processo vamos desenvolvendo recursos psíquicos e estratégias que nos auxiliam a lidar com a dor do que foi perdido e também, com as possibilidades de seguirmos nossa vida sob uma nova organização.

A perda de alguém significativo traz muita dor e a elaboração do luto vai demandar um trabalho psíquico que varia no tempo e na intensidade para cada pessoa.

Luto na pandemia de Covid-19

Uma pesquisa realizada pelo Instituto  FSB Pesquisa, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria, revelou que 75% dos entrevistados, num total de 2010 pessoas, conheciam ao menos um amigo (a), parente ou colega de trabalho que tinha falecido em decorrência da Covid-19. De acordo com um artigo publicado no portal G1, cerca de 6 a 10 pessoas sofrem com a dor da perda de alguém. Se  tomarmos em consideração o número de vidas perdidas durante a pandemia no Brasil, estamos falando de uma média de 3.600.000 pessoas enlutadas.

Além das pessoas diretamente atingidas pelo falecimento de alguém próximo, grande parte da população sofre com as notícias diárias sobre o crescimento das mortes no Brasil. A comoção compartilhada nas redes sociais pelo falecimento de figuras públicas revela como as pessoas têm sido afetadas pela dor e pela tristeza. O falecimento recente de um ator com grande conexão com o público deu vez e voz ao choro daqueles que já estavam engasgados e sufocados com tantas vidas perdidas desde o ano passado.

Como cada pessoa vai passar pelo processo de elaboração da perda dependerá dos recursos psíquicos e da resiliência que ela foi desenvolvendo ao longo da vida.

Há, porém, complicadores impostos pela pandemia que podem tornar o processo de luto ainda mais doloroso. Não poder visitar o ente querido no hospital, não poder velar e enterrar a pessoa como gostaria, não poder receber apoio e conforto presencial de parentes e amigos são alguns dos complicadores que tornam o processo de elaboração do luto ainda mais sofrido nesse momento.

Apoio a pessoas enlutadas

Algumas pessoas poderão precisar de ajuda para passar por esse processo. Pessoas com história prévia de transtornos mentais podem ter a sua saúde mental mais atingida e precisar de apoio médico e/ ou psicoterápico para poder elaborar a perda. Mas a maioria das pessoas consegue se reorganizar após uma perda significativa com o tempo e com o apoio de amigos e familiares.

Para quem apoia alguém em sofrimento com a perda, o mais importante é estar presente e disponível. Muitas vezes a ajuda na rotina diária (levar filhos para a escola, preparar refeições por exemplo) pode ser de extremo valor para aquele que está sem energia devido ao luto. Há de se considerar sempre o respeito ao momento que a pessoa enlutada está vivendo. Conversar e escutar a pessoa em sofrimento são maneiras de promover alívio e conforto emocional. Porém, deve-se evitar frases prontas como “foi melhor assim” ou “você tem que ser forte”. Tais expressões podem atenuar a angústia de quem escuta mas pode acentuar ainda mais a dor de quem lida com a perda. 

Acolher envolve escuta atenta e empática. Acolher o choro, o silêncio ou qualquer outro comportamento de alguém enlutado, sem julgar, traz alívio e conforto para quem sofre.

Lidando com o luto na pandemia

Recentemente a Fiocruz elaborou uma cartilha  que auxilia as pessoas lidarem com a solidão e com sentimentos associados a perda de alguém durante a pandemia de covid-19.

Além desse material de apoio, há algumas instituições que oferecem serviço de apoio psicológico para pessoas enlutadas como as que seguem abaixo:

  • Proalu – Programa de Acolhimento ao Luto.

Para participar enviar e-mail ([email protected]) para o primeiro agendamento. Instagram: @proalu.unifesp

  • Lelu – Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto

Agendar através do e-mail ([email protected]) ou telefone (11 3862 6070) das 10:00 às 15:00. 

  • Grupo de Acolhimento Psicológico a Enlutados pela Covid-19 (Unesp/ Assis)

Os encontros são gratuitos e online. Para participar preencher o formulário http://bit.ly/2JHn1sm ou enviar e-mail ([email protected] para maiores  informações.

Para acompanhamento psicológico individual, você pode entrar em contato comigo através do telefone/ whatsapp:  11 98858 7099  ou [email protected]